07/01/2014

Opinião | Prisoners | Denis Villeneuve. 2013

Título em Portugal: Raptadas
Data de estreia: 17.10.2013



Numa pacata localidade de Boston, Keller Dover (Hugh Jackman) e Grace (Maria Bello) são pais de duas crianças – Ralph (Dylan Minnette) e Anna (Erin Gerasimovich). Uma família normal e feliz. Os quatro vão visitar a família Birch - Franklin (Terrence Howard) e Nancy (Viola Davis), pais de Joy (Kyla Drew Simmons) e de Eliza (Zoe Borde). Depois da refeição e de uns copos a mais, os adultos e os filhos mais velhos não se apercebem que Anna e Joy desaparecem. 
O desespero assola as famílias. A polícia toma conta do caso e a investigação é liderada pelo detective Loki (Jake Gyllenhaal). As evidências apontam para Alex (Paul Dano), um jovem estranho, com problemas mentais. No entanto, as poucas capacidades intelectuais de Alex, fazem com que a polícia acredite que o jovem não seria capaz de levar a cabo o rapto e possível morte das duas crianças. Mas Keller não acredita na inocência do rapaz e decide fazer justiça pelas próprias mãos. 





Já assistimos à história em causa vezes sem conta, em filmes, séries, livros e infelizmente em notícias. O rapto de crianças, o destroçar das famílias, a investigação policial e a justiça pelas próprias mãos. No entanto, este filme está longe de ser banal e é isso que o torna um dos melhores thrillers de 2013. 
Vivemos a história de forma intensa. Sofremos com os pais, investigamos com a polícia e até sentimos um misto de ódio/empatia com um suposto suspeito. Não se enganem, é um filme muito difícil para progenitores. 
Até onde vai a coragem humana e a salvaguarda daquilo que é nosso e que foi gerado por nós? A resposta é impossível de ser dada e Denis Villeneuve foi muito astuto ao mostrar isso - através de acções, de diálogos e, sobretudo, através do atormentador fim. 
A interpretação de Jackman é tocante e inquietante. Keller Dover é um pai que já vimos ser interpretado inúmeras vezes mas talvez desde Carl Lee Hailey (Samuel L. Jackson), em “A Time to Kill”, que não atingia valores de justiça tão elevados. Pai, devoto, destemido e alterado. Na tentativa de descobrir a verdade, ignora qualquer sentido de justiça e de defesa e salvaguarda da vida humana. Jake Gyllenhaal como Loki, um detective singular que se vê dividido entre a justiça, a investigação, entre o confronto com fontes e o seu instinto. 
Estas são duas das personagens mais marcantes do cinema do ano que findou. O restante elenco é igualmente de peso: Maria Bello, que já sabemos ser talhada para o papel da sofredora, Terrence Howard, competente, mas ocultado por um Jackman soberbo. Viola Davis, Paul Dano (Alex Jones) e Melissa Leo (Holly Jones) merecem igualmente realce. 
É um filme intenso. Ao longo de 153 minutos, o suspense nunca cessa. O realizador, através das cores frias, da luz, dos sons, da música, cria uma atmosfera assustadora e quase assombrosa. Estamos perante um quebra-cabeças inquietante e complexo que ao mesmo tempo e estranhamente consegue ser maravilhoso. Às já mencionadas e brilhantes interpretações de Jackman e Gyllenhaal, há que destacar a realização de Denis Villeneuve e o argumento de Aaron Guzikowski que dotaram o filme de minúcia, enigma e, sobretudo, de uma ambiguidade moral que o torna emocionante e inesquecível. 

Nota:


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