23/09/2013

Opinião | Mud | Jeff Nichols. 2012

Título em Portugal: Fuga
Data de estreia: 24.10.2013 



Dois jovens na fronteira da infância com a adolescência - Ellis (Tye Sheridan) e Neckbone (Jacob Lofland), partem numa aventura que os leva a uma ilha abandonada em pleno Mississippi e ao lendário barco perdurado no topo de uma árvore. A ilha – que pensam ser selvagem – é habitada por um fugitivo da lei, de nome Mud (Matthew McConaughey). Entre o homem e os rapazes nasce uma amizade única, cumplicidade, perigos vários e a descoberta de um mundo novo.

Li algures a frase: “The Adventures of Huckleberry Finn meets Beasts of the Southern Wild in Jeff Nichols coming of age tale”. Expressão esta, que descreve perfeitamente este filme que merece nada mais, nada menos do que uma vénia longa e demorada a Jeff Nichols



Dito isto, é fácil perceberem que este Mud entrou de rompante nos meus favoritos de 2013. Porquê? São várias as razões.

Matthew McConaughey  prova mais uma vez, que longe das comédias românticas consegue ser muito competente e que ainda tem muito para mostrar e dar ao Cinema. Reese Witherspoon, como Juniper – a namorada de Mud - e apesar de ter um papel muito terciário, tem uma presença agradável e o seu o melhor desempenho num filme desde Walk the Line. A Sam Shepard e Ray McKinnon cabem dois importantes papéis. Representam dois homens que vivem impregnados no silêncio e em lutas internas, um foge de algo, outro foge da “cidade”. 

Os dois jovens actores têm papéis sólidos, sendo Ellis o que tem mais destaque e é também o mais expressivo. Os seus desempenhos são comoventes e uma mostra real da infância no Sul dos Estados Unidos. Nestas duas personagens do filme, encontramos a inocência de alguém que ainda não foi corrompido pela vida adulta, cínica e tantas vezes cruel, mas também a saudade de olharmos para alguém como herói e sobretudo a saudade de acreditarmos no amor e na luta que este às vezes envolve. São crianças que ainda não sabem o que é o desapego, o acto de desistir e o papel do destino. 

O filme é banhado por uma cinematografia majestosa. O misterioso Mississippi e as suas margens áridas, criam imagens dignas de desfrutar e valorizar. A fotografia panorâmica do delta do rio é uma alegoria do “infinito” e do “desconhecido”, é um separador entre o “velho e o novo” entre a segurança daquilo que se conhece e a excitação pelo desconhecido. Mud é um filme cheio de simbolismo. O rio, o barco, a ilha, as casas – tudo tem uma leitura secundária. Passado, presente, futuro. Bem e mal. Infância, idade adulta. Sonho, realidade. Persistência, renúncia. Velho e novo. Nichols mostra uma América que raramente é vista e fá-lo de forma deslumbrante e com muita alma. Mostra uma lama, que por vezes se torna em água límpida. 




Nota:





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